(Essa onda de denúncias e movimentos, é muito importante, mas não podemos esquecer que todos os dias milhares de mulheres são assediadas e estupradas, e não denunciam por medo de serem mortas ou ter a imagem degradada, por tanto, é um erro olhar o problema apenas por uma via, e achar que apenas os casos que ficamos sabendo e que foram denunciados existem.)
Na série somos inseridos em um mundo distópico onde a humanidade foi atingida por uma epidemia de infertilidade, causada principalmente por fatores ambientais, assim, a taxa natalidade da maioria dos países se tornou quase inexistente.
Em meio a esse caos, o governo totalitário da República de Gileade, guiados por uma teonomia cristã, domina o território dos Estados Unidos, e em meio a uma guerra civil ainda em curso, as organizações sociais são completamente modificadas. Pessoas são enforcadas e expostas em muros, como punição por serem médicos ou professores que se opuseram a ideologia do governo, e a mínima desobediência é paga com sessões de tortura ou até mesmo com membros decepados.
As Aias, tem os seus nomes trocados pela junção da preposição 'of' ('de', em português) e o nome do "homem da família". Durante toda a primeira temporada, acompanhamos todos esse caos pelo ponto ponto de vista de Offred (Of + Fred ("homem da família")), que, mesmo tentando fugir, acabou tendo a filha arrancada de si e sendo levada para se tornar uma Aia.
Apesar de muitos considerarem a série apenas como mais uma história "distópica" que enxerga o futuro de forma pessimista, ela é perfeita representação da realidade atual de muitos países (com umas pitadas do drama hollywoodiano), onde as mulheres são criadas essencialmente para reproduzir e servir aos seus "senhores". E de certa forma, também representa as realidades do mundo americano e europeu, se olharmos com mais cuidado para a nossa cultura em relação a mulher na sociedade. É desesperador acompanhar o cotidiano das Aias, principalmente tendo em mente que todas essas atrocidades acontecem embaixo do nosso nariz na vida real, porém, da forma mais velada possível.
Considerada a melhor estreia do ano por muitos críticos, praticamente tudo é um ponto alto nessa série, desde as atuações muito boas, com destaque na Elizabeth Moss, que foi simplesmente perfeita como Offred, à fotografia, roteiro e trilha sonora.
Inclusive, a trilha sonora foi um dos fatores que me fez desenvolver toda essa reflexão sobre a atualidade dos problemas citados na série. A primeira vista, o que pensamos é que tudo se passa em uma espécie de "idade média futurista", diante de todo o fanatismo religioso e modo como os textos sagrados são usados como base para argumentar a favor dos preconceitos mais infundados. E então, a trilha entra em ação com músicas "animadinhas" e atuais, que provavelmente você já escutou em algum lugar por aí, e tudo vem a tona, o fato de tudo estar acontecendo no ano de 2019, e que começou em um contexto muito parecido com o nosso atual (a poluição ambiental aumentando o número de doenças e diminuindo nossa imunidade, o crescimento de ideologias religiosas extremamente radicais...).
A violência, o assédio, a exploração e desvalorização da mulher na nossa sociedade existe sim, e está mais do que na hora de enxergarmos e fazer algo a respeito, antes que tudo acabe monopolizado pelo machismo e pelo ódio, assim como na série.
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