A "distopia" de The Handmaid's Tale

12 fevereiro 2018


Mais uma série que recebeu muito destaque nas últimas premiações foi The Handmaid's Tale, uma produção baseada no romance de mesmo nome da autora Margaret Atwood. A série foi muito elogiada por ser uma produção tecnicamente bem desenvolvida, porém, não podemos deixar de lado o fato de que ela aborda problemas muito sérios, que estão vindo cada vez mais atona com a onda de denúncias de assédios em Hollywood.

(Essa onda de denúncias e movimentos, é muito importante, mas não podemos esquecer que todos os dias milhares de mulheres são assediadas e estupradas, e não denunciam por medo de serem mortas ou ter a imagem degradada, por tanto, é um erro olhar o problema apenas por uma via, e achar que apenas os casos que ficamos sabendo e que foram denunciados existem.)

Na série somos inseridos em um mundo distópico onde a humanidade foi atingida por uma epidemia de infertilidade, causada principalmente por fatores ambientais, assim, a taxa natalidade da maioria dos países se tornou quase inexistente.

Em meio a esse caos, o governo totalitário da República de Gileade, guiados por uma teonomia cristã, domina o território dos Estados Unidos, e em meio a uma guerra civil ainda em curso, as organizações sociais são completamente modificadas. Pessoas são enforcadas e expostas em muros, como punição por serem médicos ou professores que se opuseram a ideologia do governo, e a mínima desobediência é paga com sessões de tortura ou até mesmo com membros decepados.

Essa sociedade passa a ser governada por líderes fanáticos e sedentos de poder, que diante da crise de infertilidade, "recrutam" as mulheres ainda férteis de Gileade, e passam a chama-las de Aias. Essas mulheres são treinadas, de acordos com rígidos princípios do velho testamento cristão, para depois serem mandadas para as casas da elite governante, e serem submetidas á estupros mensais, em seus períodos férteis, o que eles chamam de "cerimônias", com o intuito de gerarem um filho para aquela família.

As Aias, tem os seus nomes trocados pela junção da preposição 'of' ('de', em português) e o nome do "homem da família". Durante toda a primeira temporada, acompanhamos todos esse caos pelo ponto ponto de vista de Offred (Of + Fred ("homem da família")), que, mesmo tentando fugir, acabou tendo a filha arrancada de si e sendo levada para se tornar uma Aia.

Apesar de muitos considerarem a série apenas como mais uma história "distópica" que enxerga o futuro de forma pessimista, ela é perfeita representação da realidade atual de muitos países (com umas pitadas do drama hollywoodiano), onde as mulheres são criadas essencialmente para reproduzir e servir aos seus "senhores". E de certa forma, também representa as realidades do mundo americano e europeu, se olharmos com mais cuidado para a nossa cultura em relação a mulher na sociedade. É desesperador acompanhar o cotidiano das Aias, principalmente tendo em mente que todas essas atrocidades acontecem embaixo do nosso nariz na vida real, porém, da forma mais velada possível.


Considerada a melhor estreia do ano por muitos críticos, praticamente tudo é um ponto alto nessa série, desde as atuações muito boas, com destaque na Elizabeth Moss, que foi simplesmente perfeita como Offred, à fotografia, roteiro e trilha sonora.

Inclusive, a trilha sonora foi um dos fatores que me fez desenvolver toda essa reflexão sobre a atualidade dos problemas citados na série. A primeira vista, o que pensamos é que tudo se passa em uma espécie de "idade média futurista", diante de todo o fanatismo religioso e modo como os textos sagrados são usados como base para argumentar a favor dos preconceitos mais infundados. E então, a trilha entra em ação com músicas "animadinhas" e atuais, que provavelmente você já escutou em algum lugar por aí, e tudo vem a tona, o fato de tudo estar acontecendo no ano de 2019, e que começou em um contexto muito parecido com o nosso atual (a poluição ambiental aumentando o número de doenças e diminuindo nossa imunidade, o crescimento de ideologias religiosas extremamente radicais...).


Enfim, a produção é mais que merecedora de todos os prêmios e elogios, por trazer para a massa um tema tão importante, que muitas vezes é visto apenas como um pequeno problema, mas na verdade é uma grande bomba atômica de pqreconceito que está prestes a explodir bem encima das nossas cabeças, e continuamos negando sua existência.

A violência, o assédio, a exploração e desvalorização da mulher na nossa sociedade existe sim, e está mais do que na hora de enxergarmos e fazer algo a respeito, antes que tudo acabe monopolizado pelo machismo e pelo ódio, assim como na série.

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