Livro: Crônica de uma morte anunciada, Gabo

23 junho 2017



"No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às 5h30m da manhã para esperar o navio em que chegava o bispo."

Hoje é dia de falar de Gabriel García Márquez, um dos mais renomados escritores latino-americanos. A citação acima é, por incrível que pareça, a primeira frase do livro. Dessa forma, já iniciamos a leitura conscientes de que um personagem importante irá morrer, e não só isso, ele será assassinado, e é nessa inversão que está a genialidade da obra.
O livro narra, na forma de uma reconstrução jornalistica, os últimos acontecimentos na vida de Santiago Nasar, quando este, sai de casa trajando suas melhores peças de roupa,  para ver a chegada do bispo no navio. Era segunda-feira, e toda a cidade se recuperava da grande festa de casamento ocorrida na véspera. Todos sabiam da ameaça de morte a Santiago, mas ninguém conseguiu impedir a tragédia. 
A história é contada através de fragmentos de memoria dos habitantes da pequena cidade, 20 anos após o crime ter ocorrido.  O narrador é um primo, não nomeado, do morto, que presenciou os acontecimentos.

Algo muito interessante, e que me perturbou durante muito tempo, é que os moradores da região sabiam que o crime poderia acontecer, mas simplesmente duvidaram ou ignoraram a possibilidade.O livro traz o retrato de pessoas melancólicas, infelizes, que aparentam carregar maldições, o que dá à leitura uma aura trágica e dramática.Esse pensamento é reforçado pelo fato que a morte de Santiago Nasar é apenas o desfecho de uma desgraça ocorrida na noite anterior: A devolução da moça que acabara de se casar. O que deixa o foco da narração não apenas em Santiago, o morto, mas em todos que o rodeavam no momento da morte.
Assim, Gabo nos prende aos seus quebra-cabeças, nos fazendo refletir sobre a veracidade da sociedade em que vivemos, e de que personagens fadados à tristeza e à solidão nos refletem em certos momentos de nossas vidas. Apear disso, a leitura consegue ser fluida, e ao terminar o livro senti o sentimento de leveza que uma história bem contada proporciona. É completamente incrível, a capacidade de Gabriel Gacía Márquez de transformar a realidade trágica em coisas tão belas.

" Na Janela de uma casa em frente ao mar, bordando à máquina na hora mais quente, havia uma mulher de meio-luto com óculos de arame e cãs amarelas, e sobre sua cabeça estava uma gaiola com um canário que não parava de cantar. Vendo-a assim, dentro do mar idílico da janela, não quis acreditar que aquela mulher fosse que eu pensava, porque me recusava a admitir que a vida acabasse por parecer tanto à má literatura. Mas era ela: Ângela Vicário 23 anos depois do drama."

PS: O livro é baseado em histórias reais, que o próprio Gabo presenciou na cidade onde morava. 
O livro foi publicado em 1981.

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